O dia em que cruzei com a Yakuza (e sobrevivi)
Eu não deveria estar lá.
A ideia era acordar cedo e assistir ao famoso festival Sanja Matsuri, no bairro de Asakusa, em Tóquio. Mas, depois de uma madrugada fotografando, meu corpo pediu arrego. Acordei tarde. Muito tarde. Quando finalmente consegui sair de casa e chegar até Asakusa, já eram 16h30. O clima de festa ainda pairava no ar, mas os momentos mais intensos já tinham passado. Achei que tinha perdido toda a mágica.
Mas eu estava com minha câmera.
E esse é o segredo da fotografia. Ela recompensa quem aparece, mesmo quando parece que é tarde demais.
Andei pelas ruas meio sem rumo, até que percebi uma pequena aglomeração. Me aproximei, curioso. Foi então que vi as tatuagens. De corpo inteiro, elaboradas, impressionantes. Não eram turistas comuns. Era um grupo (enorme) de Yakuza. E eles não estavam apenas passando — estavam ali, de peito aberto, exibindo suas tatuagens com orgulho, cercados de gente tirando selfies e conversando com eles.
Aparentemente, o Sanja Matsuri é o único dia do ano em que os membros da Yakuza saem às ruas assim, à mostra. Eu tinha tropeçado em algo que nem sabia que existia.
Meu instinto falou mais alto. Levantei a câmera e mirei em um deles. Ele olhou direto pra mim.
Na hora, pensei: “Pronto. É agora que eu morro.”
Mas não. Em vez disso, o cabra, com toda a pinta de ser um chefão da Yakuza, abriu um sorrisão. E não só deixou eu tirar a foto sem perecer, como posou pra mim. Com calma, com orgulho. E um a um, fui fotografando todos eles. Foi surreal. E foi lindo.
Esse encontro inesperado se tornou um dos pontos altos da minha vida como fotógrafo. Não porque eu planejei. Nem porque eu calculei cada passo. Mas porque eu estava lá. Com a câmera na mão e a disposição de seguir a intuição, mesmo que fosse quatro horas depois do horário ideal.
Esse dia me lembrou de algo essencial: a sorte sorri para o fotógrafo preparado e presente. Se você está lá, de verdade, o mundo tem um jeito curioso de te presentear.
E, às vezes, esse presente vem tatuado, sorridente e saído direto das sombras.
Rodrigo Bressane
Tóquio, Japão
Duas coisas:
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